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Auditoria no Corinthians identifica desvio de materiais da Nike e aponta vice-presidente como figura central das irregularidades

  • Foto do escritor: Redação InfoTimão
    Redação InfoTimão
  • há 21 minutos
  • 4 min de leitura
Em relatório, Armando Mendonça retirou 131 itens entre junho e outubro, e funcionário chegou a ser flagrado vendendo material.

Em relatório, Armando Mendonça retirou 131 itens entre junho e outubro, e funcionário chegou a ser flagrado vendendo material.


Uma auditoria interna realizada no Corinthians revelou um conjunto amplo e preocupante de irregularidades na gestão de materiais esportivos fornecidos pela Nike, envolvendo desde retiradas sem registro até a confirmação de comércio clandestino de produtos pertencentes ao clube.


O relatório foi obtido pelo ge, que detalhou as inconsistências e os agentes envolvidos, e chega num momento em que o Corinthians já é alvo de um inquérito da Polícia Civil por suspeita de furto qualificado, tema abordado recentemente pelo InfoTimão em outra matéria.


A nova apuração reforça e amplia a dimensão da crise. Segundo o relatório, práticas irregulares teriam ocorrido ao longo de 2024 e 2025, inclusive após o início da atual gestão. Entre os episódios identificados, constam retiradas indevidas, falta de controle contábil, distribuição desigual entre os departamentos e até um caso confirmado de comercialização de materiais desviados por um funcionário.


Corinthians recebeu quase 300% acima da cota, mas modalidades seguem sem uniformes


A auditoria identificou que o Corinthians recebeu 41.963 itens esportivos da Nike em 2025, até outubro, aumento de 24% em relação ao ano anterior. Considerando 2024 e 2025, o clube recebeu um total avaliado em R$ 23,7 milhões em materiais esportivos, superando em R$ 15,7 milhões o limite contratual previsto de R$ 4 milhões por ano. Esse excedente representa quase 300% acima da cota estabelecida.


Mesmo com esse volume expressivo, a distribuição dos uniformes e equipamentos se mostrou desigual e ineficiente. Modalidades como natação e esportes aquáticos não receberam uniformização oficial, enquanto equipes de base, especialmente as categorias sub-12 e sub-13, utilizam uniformes de 2019 para treinos e de 2021 para jogos.


O relatório aponta também defasagem grave na divisão de materiais para a base e para outras modalidades, enquanto o clube gastou R$ 776 mil na compra de produtos licenciados para suprir necessidades que deveriam ter sido atendidas pelos fornecimentos da Nike, que não geram despesa ao clube.


Notas não lançadas e falhas sistêmicas colocam clube em risco fiscal


Entre 2024 e 2025, a auditoria identificou R$ 6,4 milhões em notas fiscais não registradas no sistema de controle do clube. A falha compromete o fluxo de informações, prejudica a acurácia dos saldos e expõe o Corinthians a risco fiscal, além de quebrar processos internos de rastreabilidade.


Os auditores classificam essa falha como não conformidade grave, especialmente em um período em que o clube já era monitorado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil.


Clube precisou mudar uniforme em jogo contra o Fluminense por falta de camisas


Um episódio simbólico chamou a atenção da auditoria. Às vésperas de enfrentar o Fluminense, no dia 13 de setembro, pelo Campeonato Brasileiro, o Corinthians constatou que não havia camisas brancas suficientes para compor o uniforme principal. Como a Nike não teria tempo hábil para enviar novos itens, o clube solicitou ao Fluminense que ambas as equipes atuassem com seus uniformes alternativos. O pedido foi aceito.


O caso é descrito no relatório como evidência de “descontrole estrutural” na gestão dos materiais.


Corinthians pediu ao Fluminense para jogarem com uniformes reservas por não ter camisas brancas suficientes.
Corinthians pediu ao Fluminense para jogarem com uniformes reservas por não ter camisas brancas suficientes. Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense

Comércio clandestino: funcionário admite venda de materiais desviados


Uma denúncia anônima motivou uma investigação adicional da auditoria, que constatou a existência de comercialização clandestina de materiais esportivos do clube, tanto dentro quanto fora das dependências.


Um funcionário foi flagrado vendendo peças por valores entre R$ 150 e R$ 180 e confessou o envolvimento no esquema. O nome do colaborador não foi divulgado no relatório.


Vice-presidente Armando Mendonça é citado como protagonista de irregularidades


O relatório aponta que o vice-presidente Armando Mendonça, responsável pela gestão dos materiais esportivos desde maio, aparece em diversas situações classificadas como inconformes. Segundo o documento, o dirigente:

  • Retirou 131 itens, entre 6 de junho e 30 de outubro, fora as camisas solicitadas para ações de relacionamento nos jogos.

  • Solicitou para si todas as 19 camisas especiais produzidas para o clássico contra o Palmeiras, em agosto. Após descobrir que a auditoria tomara conhecimento do pedido, teria cancelado a solicitação, mas retirado oito peças sem formalização.

  • Realizou retiradas diretas no CT sob justificativa de empréstimo, sem autorização ou registro.

  • Transferiu materiais do CT para o Parque São Jorge sem documentos fiscais, segundo o relatório.

  • Em duas conversas com o diretor de Tecnologia, responsável pela auditoria, adotou tom “incisivo e agressivo”, interpretado como “ameaça” pelo auditor.

  • Participou, sem convite, de reunião com representante da Nike, conduzindo perguntas e respostas de forma tendenciosa, o que teria causado constrangimento aos presentes.


Uniformes especiais do Corinthians, com patches da NFL, que relatório aponta terem sido solicitados por Armando Mendonça.
Uniformes especiais do Corinthians, com patches da NFL, que relatório aponta terem sido solicitados por Armando Mendonça. Foto: Reprodução

Posicionamento de Armando Mendonça


Em resposta ao ge, Armando Mendonça rejeitou todas as acusações. Ele afirmou que não é responsável pela política de distribuição de materiais da Nike no clube e que sua atuação na área começou após encontrar um cenário de caos herdado da gestão anterior. Segundo ele, sua intenção foi auxiliar na criação de mecanismos de controle, pedindo melhorias no sistema para garantir transparência.


Mendonça declara que não houve ameaças e que os pedidos de materiais são feitos formalmente por e-mail, seguindo os rituais internos. Ele também afirmou que o relatório é tendencioso e contrário aos esforços de profissionalização que estaria tentando implementar. O dirigente disse ainda que discorda de certos processos internos, mas que isso faz parte da rotina de gestão, negando qualquer tentativa de interferência na auditoria.


Armando Mendonça, vice-presidente do Corinthians.
Armando Mendonça, vice-presidente do Corinthians. Foto: Emilio Botta

Conclusões e recomendações do relatório da Auditoria no Corinthians


O relatório da auditoria constatou:

  • Falhas processuais graves nos controles de armazenamento e distribuição

  • Ausência de rastreamento confiável nas solicitações e retiradas

  • Retiradas antes de trâmites formais, sem registros adequados

  • Indícios de comercialização indevida de materiais do clube

  • Volume excessivo de recebimento de itens em relação ao contrato com a Nike

  • Desigualdade na distribuição dos uniformes entre as modalidades


Os auditores listaram 17 recomendações para reorganizar o processo e enviaram cópias do relatório ao presidente Osmar Stabile, ao presidente do Conselho Deliberativo Romeu Tuma Júnior e à Polícia Civil, que já conduz investigação sobre o tema.


Acompanhe todas as atualizações no InfoTimão


O InfoTimão seguirá cobrindo todos os desdobramentos envolvendo desvios de materiais esportivos, a atuação da Nike, o posicionamento da diretoria e a apuração da Polícia Civil.


Para seguir os bastidores completos do caso e a evolução das investigações, acesse: www.infotimao.com.br

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